sexta-feira, 17 de abril de 2009

viver é aprender

Viver é aprender a esperar.Esperar é aprender a ser.A ser mais velho, mais sério, mais equilibrado.A ser melhor. A ser aquilo que temos mais medo de ser.A conquistar aquilo que mais tememos obter.A aceitar que o tempo nos mostre aquilo que não queremos ver.E nos ensine a ouvir o que não queremos perceber.Viver é aprender a dizer não, talvez, depois logo se vê, espera só mais um bocadinho, ainda é cedo.Ainda não sei se quero casar e ter filhos, se quero viver contigo para sempre, se és o homem da minha vida, se daria a minha vida por ti.Ainda não sei se algum dia saberei estas e outras coisas.Ainda não sei se o mar que todos os dias vejo da janela nos junta ou nos separa, se te vou amar todas as luas e acordar contigo até que a morte nos separe.Se vou ter medo que tu envelheças, ou te esqueças, ou queiras viver sem mim.Ou se tudo isso me vai acontecer. Viver deve ser isto, duvidar ao mesmo tempo que se sonha, misturar a vontade e o medo, o prazer com a dor, a doçura com o desgosto, as saudades com o presente, o tempo e o lugar, meter as mãos pelos pés e fechar os olhos, cerrar os punhos na descida da montanha russa, suster a respiração na subida seguinte, desejando e temendo que seja a última, a derradeira, a que nos vai levar à paz sempre desejável mas nunca tangível, mesmo ali à mão de semear, não temos tempo para ver a semente crescer, não sabemos esperar, como fazem os sábios e os Deuses. Quando nascemos estão todos à nossa espera, e depois esperam que a gente cresça, primeiro os dentes, depois as palavras, e depois ficam à espera que saibas ler e escrever e fazer contas, e depois que tenhas barba e namoradas, que te cases e tenhas filhos, que sejas mulher e homem e pai e mãe e sério e seguro, e depois esperam de ti o melhor e tu começas a perceber que também esperas tudo do mundo e dos outros e que passamos a vida à espera uns dos outros, por isso, Espera só mais um bocadinho, ainda preciso de perguntar, de saber, de descobrir, de sentir, de perceber, de aceitar, de esquecer, de rezar, de crescer, ainda preciso de adormecer ao colo da minha mãe, de me despedir dos mortos, de arrumar os vivos, de cuidar dos mais pequenos, de ouvir os mais velhos, de dar a mão ao meu filho até ele crescer, De duvidar, de desejar, de saber se vale ou não a pena esperar pelos sonhos, ou se viver é aprender a esperar sem esperar nada e só assim descobrir a paz depois da descida, o sossego nas estrelas depois das luas, o sono reparador nos teus braços depois da desordem do amor, a vida depois da vida, depois da espera, depois do depois. Mas faz como eu, espera aos bocadinhos e vive pelo meio, vai saboreando o azul do mar sem pensar se ele te separa ou junta a mim, fecha os olhos à noite sem esperar que o sono te traga nos sonhos o que mais desejas, aprende a sonhar acordado sem tirar os pés do chão, segura-me o balão para que nunca parta, nunca fuja de ti nem de mim e para que, no fim do dia ou da vida, possamos dar as mãos e descobrir na última volta da montanha russa o vento mágico de um regresso sem tempo, uma paz esquecida num beijo eterno que nos traga de volta à vida, mesmo que a vida seja aquilo que nunca esperámos dela.

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